Em 2008, comecei a pesquisar subculturas da trollagem no 4chan ‐ o notório fórum da internet e criadouro de trollagem anônima ‐ e no Facebook ‐ um verdadeiro banquete de conteúdo trollável ‐ ou como os trolls diriam, “explorável"1. No decorrer do meu projeto de pesquisa, descobri que, ainda que dificilmente sejam um grupo monolítico ou claramente homogêneo, a maioria dos trolls enquadra-se no seguinte perfil: eles se auto-identificam como “trolls", tendem a ser inteligentes, são divertidos, maliciosos e selvagemente antagonistas. Além disso, a maioria dos trolls escolhe permanecer anônima, e rejeita ‐ quando não é também ativamente resistente a ‐ as demandas por maior “transparência online" (particularmente como as articuladas pelo CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, que contou à revista Wired que pretende criar um ambiente online que incentive o compartilhamento)2. Na verdade, para um troll, a privacidade e a liberdade são quase sinônimos, o que faz com que as violações à privacidade de modo geral ‐ tanto no âmbito federal, quanto em uma plataforma ou um nível local ‐ sejam vistas como algo equivalente à tirania. Ou seja, algo contra o qual se opor. Em termos de comportamento, a trollagem varia do vago mal gosto ao limite do ilegal: os trolls zombam de alvos desavisados com linguagem aparentemente racista, sexista e/ou homofóbica; postam imagens chocantes, inclusive pornográficas e sanguinolentas, com o intuito de desviar a conversa; e enchem os tópicos de discussão com falsas conclusões ou distorções grotescas das posições dos outros usuários.
Resumindo, os trolls deliberadamente flertam com um humor controverso e transgressor. Eles assim o fazem para acumular o que chamam de “lulz“, um tipo particular de riso agressivo e moralmente ambíguo que indica o grau de aflição emocional incutida nas vítimas. Para o troll, a natureza da aflição é secundária, senão absolutamente insignificante, em relação ao seu divertimento com os efeitos [obtidos do escárnio]. Conforme minha experiência, os trolls poderiam atacar tanto membros da Igreja Batista de Westboro (também conhecida como a Igreja “Deus Odeia Gays")3, como ativistas por direitos gays, e assediariam membros da KKK tão rapidamente quanto postariam mensagens racistas no website da Associação Nacional para o Avanço das Pessoas Negras. Simplificando, os trolls são ofensores ambivalentes4, interessados basicamente em lulz; é o que eles chamam de “o jogo".
Paradoxalmente, então, trollar tanto é algo para-valer quanto é encenação, tanto é divertido quanto é malicioso. É real para aqueles que suportam perder e um jogo para aqueles que só querem saber de vencer ‐ os trolls raramente investem pessoalmente naquilo que eles mesmos fazem e dizem. Nesse sentido, a trollagem é, e é projetada para ser, inerentemente unilateral. Os trolls dão a si mesmos uma escolha (participar ou não, levar a sério ou não as coisas que eles dizem), mas não concedem esta escolha aos seus alvos. Se assim o fizerem, não é mais trollagem. Deste modo, se a trollagem é antiética não é porque os trolls querem dizer o que dizem ‐ é porque não querem dizer o que dizem.
A questão legal é um outro assunto completamente diferente. Nos Estados Unidos, a trollagem está protegida, ao menos até aqui, pela Primeira Emenda Constitucional. Entretanto, cada vez mais frequentemente ‐ na América e na Grã-Bretanha ‐ a trollagem é equiparada ao “cyberbullying" (um termo problemático por si mesmo) e, portanto, corre o risco de ser categorizada como discurso ofensivo (um delito nos EUA) e/ou como assédio direto. Na Austrália diversos trolls foram presos sob normas draconianas de expressão e conduta. Independentemente de considerarmos ou não a trollagem como desagradável, moral ou politicamente, o impulso para silenciar os trolls encorpa a luta cultivada entre e dentro de governos a propósito da perceptível necessidade de censura online.
No início de minha pesquisa fui apresentada a um troll prolífico e particularmente bem sucedido que conheci como Paulie Socash (obviamente, não era seu verdadeiro nome)5. Minha relação com Paulie é estritamente virtual; embora tenhamos trabalhado juntos por aproximadamente dois anos, nunca nos encontramos face a face e provavelmente nunca o faremos. A seguinte entrevista foi conduzida por mensagens privadas no Facebook (nosso meio primário primário de comunicação) e proporciona uma perspectiva sobre o comportamento dos trolls. Conforme Paulie argumenta, a trollagem pode não ser um ato político no sentido explícito ou tradicional, mas ela se define pela resistência a todas as formas de autoridade ‐ e se posiciona diretamente no centro de debates emergentes acerca da censura online.
Whitney Phillips Como você se envolveu com trollagem?
Paulie Socash Comigo aconteceu a partir de fóruns de discussão política por volta de 2002, especialmente naqueles com um forte componente de atenção ao 11 de Setembro e sua repercussão na política nacional e internacional. Foi fácil por eu já participar de alguns desses fóruns como eu-mesmo (ou a persona online que projetei de mim mesmo, na verdade), mas decidi criar algumas personas diferenciadas nestes fóruns para atingir membros específicos que podiam ser incômodos ou demasiadamente sérios (teóricos da conspiração do 11 de Setembro e vários “hipongas", em sua maior parte). Em outras palavras, pessoas com as quais o meu eu real consideraria válido debater, mas sabia que não valeria a pena o esforço e o tempo para um envolvimento racional ‐ era melhor, mais divertido, deixá-los bravos através de postagens sem sentido, chocá-los ou distorcer suas posições.
No conteúdo e no estilo segui a liderança dos trolls que conheci trabalhando nesses fóruns, mas, que eu saiba, não havia de fato encontros e discussões sobre trollagem, nem ações coordenadas. O que difere muito de hoje.
Whitney Phillips Com que frequência você trolla e como você decide onde e como você vai agir?
Paulie Socash Como muitos trolls, eu trabalho em picos de atividade e faço pausas durante semanas ou meses. Sobretudo, decido trollar quando há um evento importante, um “furo jornalístico" para um certo grupo ‐ algo no qual as pessoas invistam tempo acompanhando online. E a decisão de trollar é na verdade uma função do tamanho do público vezes o investimento individual. Assim, o terremoto japonês e o Tsunami seriam um evento de grande proporção com um enorme público online, leve ou moderadamente investido (a maior parte empática, mas menos propensa a passar horas todos os dias nisso), mas a revelação de um vídeo do abuso de um animal e as tentativas subsequentes de se identificar os suspeitos levaria a um menor agrupamento de pessoas com um investimento muito forte (isto é, defensores dos direitos dos animais, que passam cada momento acordados online tentando “resolver" o caso). Eu permaneço nessa coisa específica por um tempo, até que ela se esgote e o interesse arrefeça, ou até quando os moderadores do fórum em que eu esteja trollando deletem tudo e excluam os perfis.
Whitney Phillips Você vê a si mesmo como pertencendo a um grupo ou comunidade? Se sim, como você caracterizaria esta comunidade? Qual é o propósito dela?
Paulie Socash Em alguma medida, sim. Mas a comunidade é muito fluida ‐ as pessoas vêm, vão e voltam. E não estou falando aqui de alguém que tenha trollado algo por alguns dias ou participado ativamente do 4chan durante algum tempo. A comunidade que considero como minha é feita por trolls que estão nesta atividade há algum tempo e levam seu anonimato a sério ‐ a propósito, também trollamos os trolls novatos descuidados (frequentemente mostrando o quanto não são anônimos). Dentro desta comunidade há um constante vai-e-vem de piadas sobre um membro excluir outro, e a decisão de divulgar a menor dica que seja sobre quem é alguém na vida real é tratada seriamente.
Apesar do divertimento e dos pontos positivos para os trolls de uma rede (os quais não abordarei aqui), as comunidades baseadas na trollagem se ancoram em um tipo específico de responsabilidade. Se o objetivo é trollar e permanecer anônimo, quanto mais se socializa e se permite que se descubra quem se é fora da trollagem, mais o propósito é minado. As pessoas tendem a trollar menos e baixar a guarda sobre suas informações pessoais.
O propósito da comunidade… Acho que é trocar ideias e técnicas, e planejar e coordenar a trollagem. O propósito subjacente filosófico ou o objetivo compartilhado, de qualquer modo, seria o rompimento da visão rósea que as pessoas têm da internet como o seu lugar emocional pessoal seguro que serve como um substituto para as interações reais que lhes faltam (isto é, demonstrar publicamente sua tristeza diante de uma tragédia, como a do Japão, a estranhos que não têm nenhuma conexão real com o evento). Este último ponto também se refere aos trolls. Há um tipo de interação, cara a cara e desrespeitosa, que os trolls gostariam de fazer na vida real, mas não conseguem (por várias razões), então eles o fazem online.
Whitney Phillips Por que é necessário ser anônimo? O anonimato é importante para a liberdade de expressão?
Paulie Socash O anonimato é decisivo em minha opinião. Ele permite que se apresente posições impopulares (sendo as suas próprias posições ou não) sem a repercussão daqueles que acreditam que dizer coisas malvadas deva resultar em ameaças de morte ou vigilância. Um diálogo aberto precisa dos elementos moderados e dos radicais, mesmo quando eles são satíricos, como na Modesta Proposta6, que era, em alguma medida, trollagem e simplesmente aconteceu de ser publicada anonimamente.
A trollagem anônima também pode servir como um teste de exemplos irrefletidos e pobremente elaborados de liberdade de expressão. Pessoas que postam tolices e coisas insensatas online certamente são livres para fazê-lo, mas a trollagem anônima proporciona que elas sejam convocadas a defender sua posição por meios nem sempre possíveis a não ser graças a um pressuposto da sociedade educada (e, sim, eu percebo o paradoxo presente aqui no fato de os trolls absterem a si mesmos da necessidade de advogar pelas posições que eles próprios assumem).
Whitney Phillips Como a sua atividade online se relaciona com a liberdade de expressão? Você se considera um defensor do discurso livre?
Paulie Socash Ainda que eu certamente tire proveito da liberdade de expressão e a apoie de modo abstrato, não sou um “defensor" das pessoas que se engajam pela liberdade de expressão online, especialmente o chamado nonsense solipsista do qual a internet está cheia (e especialmente o Facebook). Pessoalmente, eu gostaria que as pessoas expressassem menos as suas opiniões e emoções online ‐ isto é patético, para ser honesto. As pessoas deveriam achar uma melhor saída para estas coisas do que uma página do Facebook, na qual alguns bilionários estão ganhando muito dinheiro com a tristeza fingida e o envolvimento das pessoas em alguma causa ou evento.
O que os trolls fazem, entretanto, é aumentar o alcance do tipo de discurso que deve ser preservado. Dadas as recentes ações judiciais contra trolls em lugares como a Austrália, o que quer que seja que os legisladores e as cortes nos EUA decidam fazer no sentido de ampliar os limites da liberdade de expressão online é muito importante.
Whitney Phillips Entendo que os trolls agem de forma que sua identidade e privacidade sejam preservadas. Você vê alguma contradição em ocasiões nas quais você e outros possam invadir a privacidade de alguém como parte de sua trollagem?
Paulie Socash A internet não é um lugar privado, especialmente o Facebook. Simplesmente pergunte ao Mark Zuckerberg. Parte dos muitos problemas do pensamento de nossa sociedade sobre a comunicação online é o fato de as pessoas pensarem que a internet é ou que deva ser um lugar privado. É um espaço público e as pessoas devem se comportar como tal, sem esperar que seja cheia de tapinhas nas costas e flores.
Whitney Phillips Há algum componente moral/ético nas trollagens? Você se vê protegendo causas ou indivíduos?
Paulie Socash Não posso falar por todos os trolls neste tema, mas a maioria tem limites que não são cruzados, e coisas pelas quais possuem interesse especial. Quanto à maior parte, eu diria que os trolls são apoiadores do discurso livre irrestrito e do acesso público a tudo (em conjunto com o compartilhamento de arquivos, as práticas hackers e coisas do gênero).
Whitney Phillips Você usa outros fóruns além do Facebook? Você é ativo no 4chan?
Paulie Socash Raramente vou ao 4chan. Toma muito tempo e não é tão divertido para trollar, já que quase todos lá estão trollando de alguma forma (fortemente, em geral). É para pessoas novas na trollagem e interessadas em produzir variações de temas antigos, ou que esperam a publicação de fotos de nudez. Eu diria que a maioria dos trolls de longa data é desdenhoso em relação ao site como um todo e, embora ocasionalmente seja utilizado, ele certamente não é tido como lugar para uma comunidade de pessoas (ou trolls) planejar e conversar em profundidade sobre nada.
Whitney Phillips A trollagem é “política"?
Paulie Socash Muitos ou a maioria dos trolls afirmam que não há um componente moral/ético/político em sua trollagem ‐ se há evidência de um desses vetores, então não é trollagem “real", mas sim a chamada “pederastia-moral"7. Isso é estúpido, olhe-como-sou-malvado-e-superior e sobretudo hipócrita. Toda trollagem tem um componente político e 99% dos trolls possuem alguns limites morais (por exemplo, postar pornografia infantil real é um limite que a maioria não vai cruzar por razões que vão além da repercussão legal). O ponto aqui é que posições repetidas ou previsíveis a respeito de qualquer questão refletem ou a falta de criatividade ou uma posição estabelecida, o que torna o troll semelhante aos seus alvos. A seriedade e a soberba são, afinal, as melhores coisas a se atacar quando se está trollando, por isso, ter posições próprias definidas é um problema. A maioria dos trolls só evita os tópicos que eles não estão com vontade de trollar.
A questão mais ampla é se o ato de trollar representa uma ação política independentemente da intenção do indivíduo. Eu diria que sim, no mesmo sentido em que também diria sim a respeito do grafite, ou do hackeamento, ou de outros comportamentos que rompem o fluxo esperado da vida cotidiana (na vida real ou online). É um grupo privilegiado que pode trollar. Eles/nós estamos confrontando as expectativas de decoro pelo status quo porque nós podemos. Nós desprezamos a presunção e a arrogância do usuário médio da internet ou do empreendedor, mas a maioria de nós percebe a ironia de que tudo que fazemos põe mais alguns centavos nos bolsos daqueles que controlam os espaços virtuais reais8. Sinceramente, Mark Zuckerberg ganhou milhões por causa dos trolls.
Whitney Phillips Falando do Facebook, o que pode me dizer sobre a trollagem de páginas memoriais no Facebook9?
Paulie Socash O maior acontecimento midiático/pânico moral relacionado à trollagem no último ano foram as páginas memoriais no Facebook para pessoas falecidas. Geralmente aquelas para jovens brancos mortos com vinte e poucos anos. Quando estas são trolladas, um clamor enorme surge das milhares de pessoas que observam estas páginas obsessivamente, aí a mídia compreende erroneamente e causa uma confusão. As pessoas se chocam quando descobrem que há quem seja tão baixo a ponto de dizer perversidades sobre crianças mortas para suas famílias ou algo do tipo.
A realidade é simples: a vasta maioria daqueles que ganham grandes páginas de memorial no Facebook são criancinhas bonitinhas (Jamie Bulger) ou jovens belas (Jenni-Lyn Watson, Chelsea King) ou casos úteis para sustentar uma causa (Tyler Clementi e outros casos de suicídios de gays). Certamente essas páginas memoriais não são o lugar para a família e os amigos ficarem de luto (a família e os amigos devem ficar de luto em ambientes privados, como as pessoas normais). Na verdade, estas páginas são paraísos para quem busca o luto: as pessoas que substituem as amizades e as relações emocionais pelas emoções e declarações de solidariedade online. A maioria das páginas memoriais não é feita pelos amigos ou pela família; elas são criadas pelas pessoas que estão muito envolvidas com as histórias que leram online ou nos jornais ‐ pessoas que se sentem importantes e merecedoras porque estranhos as olham atentamente.
Há exceções, é claro. Há, na verdade, páginas memoriais que são estabelecidas pela família e que são trolladas porque seu usuário médio não conhece muito a respeito dos controles da página do Facebook (e da cultura da internet, em geral) para lidar com a trollagem. Na visão de alguns trolls, essas pessoas estão pedindo para serem trolladas, por serem ignorantes. No outro extremo do espectro estão as páginas memoriais criadas por trolls para atrair aqueles que buscam o luto ‐ não direi muito sobre isso, mas a página da Jenni-Lyn Watson é um exemplo excelente.
Whitney Phillips Como você responderia à afirmação de que a trollagem cria um espaço hostil ‐ ou alimenta e reproduz uma cultura hostil existente ‐ para grupos minoritários? E o que diria a respeito da afirmação de que a trollagem é um discurso de ódio ou assédio e, portanto, deveria estar sujeita a restrições legais existentes? Deveriam os critérios legais atuais voltados para o discurso de ódio e para o assédio ser aplicados aos comportamentos online?
Paulie Socash A legislação do crime de ódio é estúpida… A do discurso de ódio também é. Pelo menos quando acionada por governos em virtude do que ocorre nas esferas públicas entre indivíduos adultos (obviamente, vejo o propósito [dessas legislações] em ambientes específicos como uma escola que já tem uma tonelada de exceções para o discurso livre, mas estas não são exatamente “leis"). Falando de forma séria, se alguém mata outra pessoa, não é um crime de ódio? Um assassino deveria cumprir uma sentença em uma outra vida porque ele escolheu atingir alguém que é gay, negro, hispânico, branco (ah, eles não processam por isso)? E se o assassinado fosse um hippie, ou um viciado, ou um vagabundo ou um ruivo? Isso conta? E o estupro? Não é o estupro sempre um crime de ódio? É absurdo que tenhamos essas leis.
Ainda que haja exceções para o discurso público livre aqui nos EUA (especificamente a exceção relativa às “palavras de afronta"10, que me permite bater justificadamente em alguém que fala coisas ruins sobre mim), acusações ou agravamentos baseados em supostas intenções, especialmente online, são nitidamente Orwellianas. A afirmação de que há um componente da trollagem que leva alguém a ficar preso numa armadilha e ser zombado e sujeitado a um ambiente hostil é totalmente ridícula. Você pode deslogar do fórum público do qual você participa. Você pode excluir pessoas de suas redes sociais, bloqueá-las, retaliar ou qualquer coisa em relação àqueles que obviamente não estão sendo gentis com você online. Não é como levar uma surra ou ser importunado enquanto se caminha até o ponto de ônibus, pois você sempre tem um elemento de controle não presente nas situações da vida real ‐ o logoff. A afirmação sobre as crianças online serem ingênuas ou alvos fáceis é imperfeita ‐ onde estão os pais e sua responsabilidade em tudo isso? Há uma boa razão pela qual Lori Drew11 foi absolvida, pois parece que a suicida tinha um motivo na vida real bem além da trollagem. A verdadeira questão que deve ser levantada sobre os suicídios de adolescentes atribuídos ao chamado “cyberbullying" é: por que as crianças hoje em dia são tão propensas a matarem a si mesmas por isso?
* As opiniões expressas nesta entrevista não são necessariamente compartilhadas pela autora ou pelo projeto #MUSEUdeMEMES. O texto foi originalmente publicado no journal Index of Censorship, em junho de 2011, e reproduzido com autorização da pesquisadora. A tradução do inglês foi realizada por Mohandas Souza.
1 N.T.: Tradução do termo “exploitable". Usado para designar imagens que quase apelam pela sua manipulação, feita através da sobreposição de imagens e/ou da inserção de legendas. N.E.: Os exploitables são hoje reconhecidos como um formato visual dos memes de internet quase tão difundido quanto o image macro.
2 N.E.: A autora se refere a uma noção nativa de transparência, que embute, na realidade, a perspectiva da perda da privacidade.
3 N.T.: A polêmica Igreja Batista de Westboro, localizada no Kansas, EUA, costuma se envolver em protestos utilizando discurso de ódio contra diversas entidades e causas, dentre elas os direitos dos gays.
4 N.T.: No original em inglês, “equal-offender".
5 N.E.: Nome e sobrenome fazem referência a um meme de origem politicamente incorreta, que se disseminou no 4Chan em 2007, a partir da imagem de um rapaz segurando uma garrafa de bebida alcóolica e ao lado de uma bela mulher, com uma mensagem falsa, de conteúdo ofensivo, posicionando-o como um bullie. No texto, o rapaz afirmava que as coisas estavam muito “quentes" (shit was so cash). A imagem, na realidade, era de um jovem, morto em um acidente de carro, de nome Paulie Carbone. A mensagem falsa integrava uma ação troll, com postagens ofensivas nas páginas memoriais que a família cultivava em homenagem a rapaz falecido. Como se verá na entrevista, ações desta natureza, contra páginas de memoriais (memorial pages), no Facebook e em outras redes, é um dos ativismos trolls mais comuns. Mais detalhes sobre a origem da expressão SO Cash podem ser encontrados na Encyclopedia Dramatica.
6 N.A.: ensaio satírico escrito e publicado anonimamente por Johnathan Swift, em 1729, propondo que as crianças irlandesas fossem vendidas como comida.
7 N.T.: No original, “moral-faggotry". N.E.: A expressão faz menção ao termo “fag" (abreviação de “faggot", equivalente ao uso pejorativo “pederasta", em português), gíria empregada em comunidades como o 4chan para se referir aos pares. Há, nesse sentido, diferentes estratos de “fags", os newfags (novatos), oldfags (experientes), macfags (applemaníacos), os fagfags etc.
8 N.T.: No original, “the actual virtual spaces".
9 N.T.: O Facebook oferece a possibilidade de transformar os perfis de seus usuários falecidos em uma página para que os conhecidos postem suas lembranças e prestem homenagens.
10 N.T.: No original “fighting words". Este tipo de discurso é caracterizado legalmente como causador de danos pessoais e perturbador da ordem social, portanto não é abrangido pela Primeira Emenda à Constituição norte-americana, que garante a liberdade de expressão.
11 N.A.: acusada em caso de “cyberbullying" que levou uma menina de 13 anos de idade a cometer suicídio. N.E.: Mais informações em United States v. Drew case.