Origem
A HQ da Marvel, “Vingadores, a Cruzada das Crianças”, conta a história do período de adolescência de personagens super-heróis. O roteiro destaca tramas que exaltam o sentimento de amor, o perdão e a importância de dar segundas chances. Focada no público adolescente, a revista apresenta diálogos que vão de encontro com atitudes preconceituosas. A única cena de beijo que há na trama, nas mais de duzentas páginas, é a imagem do beijo entre os personagens Wiccano e Hulkling.
No início de setembro de 2019, durante a Bienal do Livro do Rio de Janeiro, o prefeito da cidade, Marcelo Crivella, determinou o recolhimento da história em quadrinhos. Para o político, o material deveria estar lacrado e com indicativo de que continha conteúdo sexual explícito, já que a história demonstra um beijo gay. Tal medida chocou pessoas do mundo inteiro, alçando a imagem censurada a uma fama não imaginada. Nas redes sociais, a imagem viralizou, sendo aplicada a outras fotos que demonstravam diversos problemas que o Rio de Janeiro enfrentava – algumas postagens continham a frase ou a hashtag “Crivella, corre aqui”.
A expressão “Crivella, corre aqui!” já tinha sido usada para exaltar alguns problemas da cidade. Após o episódio da tentativa de censura da revista, sucessivas postagens usaram a expressão junto a imagens de produtos ou obras de arte que remetiam a cenas de cunho sexual ou homoafetiva. O uso da imagem dos dois personagens se beijando também se tornou uma referência ao meme “Crivella, corre aqui”. Postagens enfatizando problemas da cidade, como buracos, obras inacabadas e enchentes, foram realizadas como denúncia, incorporando a figura do beijo da HQ e o jargão — no intuito de chamar a atenção do político, para que ele olhasse os problemas da cidade com a mesma intensidade atribuída à tentativa de censura da publicação.
Difusão e Repercussão
A expressão #CrivellaCorreAqui pode ser encontrada em diversos sites de redes sociais, como Twitter, Facebook e Instagram. Tanto no Facebook quanto no Instagram, os principais conteúdos obtidos são encontrados pela hashtag “#CrivellaCorreAqui”. No Twitter, o perfil @alocrivella, identificado como #CrivellaCorreAqui, republica os posts que fazem alusão ao tom de denúncia sobre as problemáticas da cidade.
No aplicativo de mensagens WhatsApp, o beijo foi compartilhado por meio do formato de sticker. As imagens do aplicativo podiam vir também com o informe sarcástico para seus interlocutores não compartilharem a imagem do beijo gay, conforme o exemplo abaixo.
Gêneros e formatos
O meme “Crivella Corre Aqui" pode ser identificado de duas formas: como catchphrases, quando a hashtag #CrivellaCorreAqui é utilizada como um jargão, ou por meio do uso da imagem do beijo dos dois personagens da HQ. Geralmente a ilustração é usada em cima de outra imagem (que escracha algum problema da cidade) e esta também pode seguir junto da frase que virou meme. Neste caso, o formato que se encaixa é o exploitable, pois o modelo usa sobreposição de imagens em tom satírico.
Esta família de memes é um produto de discussão pública, pois o uso se deu a partir da conversação nas redes sociais para criticar a tentativa de censura do livro. O uso deste material reverberou em críticas não apenas pela censura, mas também pela má gestão pública do político perante a cidade.