Origem
O que é uma Karen? De acordo com sites especializados em nomes, é um derivado grego com significado fofo: pureza. Entretanto, nos últimos anos, o termo tem adquirido um recorte bem diferente, sobretudo em países anglófonos…
O meme “Karen” faz referência ao estereótipo de uma mulher branca de classe média com atitudes autoritárias, racistas ou xenofóbicas. É alguém que, dentro desse enquadramento, chama o gerente ou liga para a polícia sempre que minimamente confrontada, reagindo de forma agressiva ao não obter o que deseja.
As teorias para o surgimento da expressão são variadas: desde um relato publicado no fórum Reddit até a associação com uma personagem homônima do filme “Meninas malvadas”. Não há atribuição exata, mas é possível notar que, com base nos sentidos relacionados, sua origem envolve a satirização de comportamentos sociais elitistas.
Assim como a autoria e referência, a data de criação também é um mistério. O termo passou a ser amplamente conhecido em 2020, no contexto pandêmico e de debates raciais do movimento Black Lives Matter nos Estados Unidos. Contudo, há pistas de que a expressão já estava inserida no vocabulário popular, ainda que não fosse propriamente um meme. O site “Urban Dictionary", por exemplo, possui uma colaboração que data de 2018 com uma correspondência semelhante ao significado atual do meme.
Ao analisarmos a palavra “Karen", na categoria de pesquisa “gíria", através do Google Trends temos mais elementos para o histórico. O interesse global pelo tema demonstrou variações ao longo do tempo, segundo os números da plataforma. Considerando os últimos cinco anos, em meados de 2019 e início de 2020 não havia volume de pesquisa significativo.
Já a partir de maio de 2020, a quantidade de buscas no Google passou a crescer, atingindo seu pico em julho do mesmo ano. Desde então, a relevância do termo reduziu, mas ainda se mantém presente no âmbito mundial. Nova Zelândia, Estados Unidos, Cingapura, Noruega e Canadá estão entre os cinco países com maior interesse pela expressão, enquanto o Brasil ocupa a 51° posição na busca por “Karen" nesse recorte temporal.
Disseminação e Repercussão
Em meio às discussões sobre a pandemia e a violência policial sofrida por pessoas negras (simbolizada pelo assassinato do estadunidense George Floyd), o meme ganhou maior destaque nas mídias sociais em 2020, como forma de crítica a condutas racistas, opressoras e negacionistas.
Assim, quando viralizavam situações reais em que pessoas tinham atitudes controversas, seguindo essa descrição comportamental, as personagens centrais eram apelidadas de “Karen".
Perpassando esses temas, a expressão alcançou diferentes regiões do mundo, trazendo também representações fictícias (mas verossímeis) de uma figura que se recusava a usar máscara, insistentemente pedia para chamar o gerente ou a polícia e utilizava discursos de superioridade racial.
No panorama brasileiro, o meme foi retomado em 2024 com maior reverberação, após a publicação de um vídeo no qual a influenciadora Marcela Montellato foi hostilizada por uma “Karen" nova-iorquina.
Na situação, Marcela estava gravando no evento para divulgação de um lançamento cinematográfico, quando começou a receber reclamações da pessoa à sua frente. Os insultos variaram entre xingamentos, ordens para que ela parasse de se expressar e falas xenofóbicas. Tudo foi documentado pela própria influenciadora e divulgado nas mídias sociais com a frase “Uma Karen me atacou em Nova York".
A intolerância expressa no acontecimento gerou comentários empáticos e de apoio por brasileiros, expandindo o alcance da expressão no país. Veículos de comunicação on-line, como G1, Estadão e Terra repercutiram o fato, contextualizando o meme.
Nesse processo de difusão internacional, ser uma “Karen" ganhou diferentes sentidos atribuídos. Se nos Estados Unidos e em outros países que utilizam a língua inglesa, tanto os fatores sociais quanto os raciais são levados em consideração, no Brasil, os aspectos de classe social e privilégios econômicos têm se mostrado preponderantes até o momento.
Ao longo do tempo, a utilização do termo tem se alterado mundialmente e, em um ensaio intitulado “The Evolving Pejoration of 'Karen'" (A evolução da pejoração de “Karen"), a estudante de linguística Rebekah Cohen (2022) chama a atenção para as variações. A pesquisadora explica que, com base em seu estudo, foi possível notar novas associações discursivas do meme que não se encaixam com o perfil sociocomportamental original.
Para Cohen (2022), o rótulo tem sido atribuído também a mulheres que não demonstram condutas racistas ou autoritárias, mas que expressam emoções de raiva, vistas socialmente como “inadequadas" ao que é feminino. Assim, haveria indícios de novas categorias para o uso e difusão dessa expressão.
Gênero e Formatos
De modo geral, o meme é disseminado na forma de imagens e vídeos, com representações reais ou fictícias de uma “Karen".
A composição estética mais frequente nas imagens é a de uma figura feminina branca, loira, de meia idade e com corte de cabelo “short bob” (um penteado assimétrico em que uma das laterais é maior). O cabelo passou a ser um aspecto tão marcante que, em algumas montagens, a presença do corte característico já faz referência ao meme, mesmo sem inserção direta do nome.
Vídeos nos quais criadores de conteúdo simulam situações constrangedoras envolvendo “Karens”, geralmente em tom de humor e/ou crítica.
Vídeos nos quais criadores de conteúdo simulam situações constrangedoras envolvendo “Karens”, geralmente em tom de humor e/ou crítica. O que também influenciou na geração da frase ''Don't be such a Karen'' como um bordão (catchphrase)
Os múltiplos tipos e combinações para a criação do meme o posicionam nas categorias de Snowclone, Image Macro e Videoexploitable.