No dia 17 de outubro de 2012, em Curitiba, a internauta Indy Zanardo foi abordada por um morador de rua pedindo para que ela o fotografasse e o divulgasse nas redes, alegando que ele queria ter a chance de se tornar famoso. Surpresa, Indy achou o tal mendigo bem apanhado e resolveu clicar o rapaz.
Rafael Nunes, o sujeito em questão, era modelo antes de se mudar para Curitiba. Lá, passou a ser usuário de crack e, desde então, ficava longos períodos morando nas ruas, fugido de casa.
Zanardo compartilhou a foto de Rafael em seu perfil do Facebook, comentando sobre seu encontro. No entanto, ela não esperava que seu post fosse alcançar tamanha visibilidade: mais de 17 mil pessoas compartilharam a foto no Facebook e mais de 15 mil menções ao “Mendigo Gato” foram tuitadas.
Com a repercussão, apareceram na web memes e paródias relacionados a Rafael. Os memes consistiam em duas categorias meméticas: (1) memes “image macro", com a foto do Mendigo Gato e frases que relacionam a sua beleza às práticas de um morador de rua e (2) memes “exploitables", que poderiam ser tanto uma montagem com o rosto do mendigo trocado pelo rosto de outra pessoa, quanto uma montagem em que o corpo dele é trocado pelo de uma personagem, por exemplo.
As paródias, por sua vez, consistiam em fotos de pessoas na mesma pose da foto original – um homem enrolado em um cobertor – acompanhadas de legendas semelhantes à escrita por Zanardo em seu post.
É importante ter em mente que esse meme parte de dois pressupostos preocupantes da sociedade contemporânea. O primeiro deles diz respeito aos padrões de beleza: Rafael é branco, magro e possui olhos claros – essas características são associadas, de um modo geral, à beleza, o que é problemático e pode causar, a longo prazo, uma opressão silenciosa em quem não as possui.
O segundo pressuposto diz respeito a uma ideia de que não existem moradores de rua “gatos”. Esse meme é apenas mais um no meio de vários que seguem o padrão “Nome de uma profissão ou classe social que é vista como inferior” + “Gato”, como o “Segurança Gato” e a “Gari Gata”. Essa última, inclusive, divulgou uma nota ao jornal Extra após ser questionada “como uma gari poderia ser tão bonita”. Ela, Rita Mattos, disse:
As pessoas se assustam quando veem uma garota bonita trabalhando como gari. Dizem que eu poderia arrumar um trabalho melhor do que ficar varrendo e capinando. Por que as garis devem ser, necessariamente, feias? Existe um preconceito. Apesar do trabalho ser bastante pesado, me divirto muito. Tenho orgulho do que faço.
A repercussão da foto possibilitou que a família de Rafael o encontrasse e o colocasse em uma clínica de reabilitação gratuitamente – se não tivesse havido visibilidade, a família não seria capaz de financiar o tratamento. Já internado, Rafael recebeu presentes e cartas de pessoas que se comoveram com sua história. Depois dos nove meses na clínica, Rafael fechou um contrato para ser modelo novamente e hoje mora em Niterói com sua esposa e com seu filho.