Origem
Nissim Ourfali é o protagonista de um vídeo de aproximadamente 03:22 minutos, publicado no YouTube no ano de 2012. O videoclipe foi feito para ser exibido no Bar Mitzvah do rapaz, uma cerimônia de inserção plena do jovem judeu de 13 anos na comunidade judaica em geral. Por algum descuido da família, contudo, o que era para ser um vídeo privado caiu na rede e se tornou um grande sucesso.
Gênero & Formatos
Em sua versão “original", o vídeo publicado pela família de Nissim Ourfali apresentava uma paródia da música “What makes you beautiful”, do grupo One Direction. Na letra recriada, constam elementos da rotina e interesse do menino, tudo explicitado em forma de frases com pouco ou nenhum sentido.
O visual ‘tosco’ (termo usado pelo editor do vídeo, Ariel Tomaspolski) garante boas risadas à audiência. Elementos inseridos pela técnica do “chroma key” (em que se fazem montagens sobre um fundo verde ou azul), por exemplo, assim como o uso de sobreposição de fotos, efeitos visuais exagerados e a famosa ‐ e tosca! ‐ baleia, incrementam o perfil trash do vídeo.
Cenas representadas sem o menor dom artístico alinhados a momentos de intimidade ‐ nada naturais ‐ da família alternam e complementam o estilo único do “Nissim Ourfali”. Outra característica importante é a própria figura do menino, entre expressões de timidez e encenação inadvertida.
Ainda que o vídeo inteiro seja um baú de pérolas prontas para virarem memes de sucesso, a frase “Mas o melhor é quando vamos pra baleia”, dublada pela voz do menino enquanto ele está ‐ literalmente! ‐ sobre uma baleia em um cenário digitalizado, foi o ponto alto da memetização. O trecho da paródia, na verdade, se referia à Praia da Baleia, localizada no litoral paulista, e seria o local de férias favorito de Nissim. Todavia, no vídeo, a Baleia foi levada ao pé da letra, e a brincadeira caiu na graça das redes sociais.
Difusão e Repercussão
O vídeo original foi postado pelo pai de Nissim no Youtube para ‘os convidados da festa poderem rever e relembrar os bons momentos tanto da festa quanto da vida do garoto’. Porém, o pouco domínio da plataforma fez com que ele postasse o vídeo como público, ou seja, de acesso livre para todo mundo. Dois blogs humorísticos de grande circulação ‐ ‘Jesus Maneiro’ e ‘Não Salvo’ ‐ acabaram por descobrir o vídeo na rede e o divulgaram, o que iniciou a viralização.
O número de visualizações do clipe foi crescendo de forma inesperada. No auge em que as brincadeiras do público já estavam disseminadas em várias redes sociais e o assunto já tinha virado pauta certa nas conversas entre os jovens, o vídeo original foi classificado como privado, o que impediu o acesso ao mesmo; pouco depois ele foi retirado do ar. Especula-se que, no período de aproximadamente duas semanas após sua publicação, já havia atingido cerca de 3 milhões de vizualizações.
De agosto à setembro o viral atingiu seu ápice de acessos e buscas, segundo o Google. Diante disso, o vídeo original foi baixado e recolocado no ar, no YouTube. Porém, a família Ourfali entrou e ganhou uma liminar no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP) contra a empresa Google para retirar definitivamente o vídeo de circulação, entre o final do mês de setembro e outubro de 2012.
De acordo com a família, a sua viralização teria causado “sérios transtornos à vida do autor”. Neste período ainda era possível obter quase 700 resultados na busca por Nissim no YouTube. Após o cumprimento da liminar, no entanto, os resultados tiveram uma queda significativa, sendo possível encontrar atualmente mais de 200 reproduções do meme.
Com a determinação do TJ-SP, o Google Brasil deveria excluir todas as referências ao vídeo no YouTube sob pena de multa diária de R$ 20 mil. Segundo Luiz Kignel, advogado da família Ourfali, a retirada deveria ocorrer a partir do recebimento da decisão judicial pela empresa, o que já teria ocorrido. Embora o YouTube possua políticas claras sobre remoção de conteúdo, a retirada completa de qualquer referência ao vídeo é tarefa de difícil execução, uma vez que ele atingiu um nível de penetração tal que já não se consegue ter controle sobre sua circulação. Ainda que o vídeo original tenha sido retirado, outras versões tendo-o por base continuam sendo produzidas e publicadas, o que acaba fazendo com que o meme não perca seu lugar no YouTube. Em 2014, a liminar foi suspensa por decisão em primeira instância do Tribunal de Justiça em favor do Google, que argumentou pela manutenção do vídeo original no ar.
O meme de Nissim Ourfali pode ser considerado um importante marco da cultura memética da contemporaneidade e uma prova de que o conteúdo reapropriado e ressignificado pelo público é de domínio público. Apesar das piadas se basearem em um tipo de humor alinhado ao ‘bullying’, e mesmo com a tentativa judicial de apagar os registros do meme, parece que os 15 minutos de fama de Nissim ainda não se foram completamente. O meme, mesmo em menor escala, continua sendo reproduzido e replicado, e ainda é possível encontrar notícias em mídias tradicionais, como o jornal e a TV, sobre o caso, o que significa que ele dificilmente cairá no esquecimento absoluto.
Como o vídeo original foi retirado do ar, não é possível precisar o número de acessos que ele atingiu como um todo. De acordo com matérias produzidas na época de aparecimento do meme, apenas no período de uma semana de exibição, o vídeo teve mais de 1 milhão de visualizações. Segundo a produtora do clipe, Noemy Lobel, o mesmo chegou a alcançar 3 milhões de views na rede social de vídeos.
* Trabalho apresentado na disciplina “Redes colaborativas e produção cultural" (2013.1) por alunos do curso de Estudos de Mídia.