Origem
A pandemia do novo coronavírus está em curso desde dezembro de 2019. Devido sua rápida disseminação e, consequentemente, lotação dos sistemas de saúde, uma das recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) é de que os países utilizem o isolamento social como estratégia para conter o surto.
Entretanto, autoridades no Brasil discordam do impacto que a Covid-19 tem na saúde das pessoas. Prova disso são as falas pronunciadas pelo Presidente da República Jair Bolsonaro, nas quais ele propaga notícias falsas como forma de negar e descredibilizar dados da doença causada pelo novo coronavírus.
Um exemplo que retrata bem esse cenário foi visto no dia 29 de março de 2020, quando várias contas no Twitter começaram a compartilhar o seguinte discurso: “Gente ! O primo do porteiro aqui do prédio morreu pq foi trocar o pneu do caminhão e o pneu estourou no rosto dele. Receberam o atestado de óbito como se fosse o covid 19. Eles estão indignados”.
Tal relato tratava-se de uma história deturpada como tentativa de fazer com que a população não acreditasse no número de casos confirmados de pessoas infectadas pelo coronavírus no país e, como resultado, não acreditasse na gravidade real da pandemia.
O que chama atenção é a similaridade do relato feito por diversas pessoas tanto no Twitter quanto no WhatsApp, dando a entender que não se tratavam de relatos verdadeiros proferidos por pessoas, mas sim por bots (robôs). Segundo Leandro Tessler, pesquisador do Grupo de Estudos da Desinformação em Redes Sociais (EDReS) da UNICAMP, a difusão de conteúdos falsos que tem origem nos perfis de Bolsonaro e de pessoas politicamente próximas a ele utilizam um sistema de bots para compartilhar em massa as “informações”.
Em entrevista dada pelo Presidente Jair Bolsonaro à RedeTV!, no dia 30 de março, no programa Alerta Nacional, o apresentador Sikêra questiona sobre esse caso em específico. Em resposta, Bolsonaro afirma: “Há interesse por parte de alguns governadores de inflar o número dos óbitos vitimados do vírus e daí daria mais respaldo para eles, talvez pedir mais recursos ao governo federal, para justificar as medidas que eles tomaram…”.
A história ganhou repercussão e a Secretária de Saúde de Pernambuco (SES-PE) se pronunciou em uma nota: “Tem circulado pelas redes sociais uma certidão de óbito que coloca a Covid-19 como causa da morte de um homem. O caso não consta no boletim divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde, que é encaminhado diariamente ao Ministério da Saúde. Apesar da certidão ser documento verídico, o óbito não foi provocado pelo novo coronavírus. Após análises laboratoriais, foi detectada a presença de outro vírus respiratório nas amostras do paciente. A SES-PE reforça que a certidão de óbito é um documento sigiloso e que deve ser disponibilizada apenas para a família. A Secretaria conta com o apoio da população para não repassar esse tipo de informação, em respeito ao falecido e seus familiares e que não compartilhem notícias falsas.”
Além deste pronunciamento, o Hospital Maria Lucinda também se pronunciou em uma nota.
Em resumo, o paciente estava com suspeita de portar o coronavírus, mas após exames, a causa do óbito foi o vírus influenza. Os demais detalhes (explosão de um pneu) foram inspirados em relatos de que o homem se envolveu no acidente da explosão em janeiro, segundo reportagem publicada pelo site E-farsas.
Difusão e Repercussão
De acordo com o Google Trends, o termo “primo porteiro” atingiu o pico de popularidade entre os dias 29 de março e 4 de abril. Além disso, após a fala de Bolsonaro, o site Brasil de Fato registrou 3.062 retweets e 33.320 interações em posts de robôs com a história falsa do borracheiro entre os dias 1º e 3 de abril.
A falta de coerência e similaridade dos relatos gerou a “epidemia de mortes de primos de porteiros”. Com isso, as informações passaram a ser reproduzidas de maneira irônica, originando inúmeros memes. Um deles é o meme em formato de gráfico curva, no qual substituíram as informações sobre o número de casos da Covid-19 pelo número de casos de mortes de primos de porteiros.
Gênero e Formato
O gênero do meme pode ser entendido como discussão pública, uma vez que sua origem está relacionada a um contexto de disseminação de informações de um político, e carregam doses de humor e ironia. Quanto ao formato do meme, pode ser considerado um snowclone: utilização de uma frase com alguns elementos variáveis que podem ser substituídos conforme o sentido que queremos expressar. Por exemplo: “Cuidado com os primos dos porteiros, eles são grupo de risco!".