Guarani-Kaiowá é uma tribo indígena brasileira que ganhou o apoio de milhões de pessoas no final de 2012, após a comunidade divulgar uma carta assinada pelos próprios indígenas – originários do Mato Grosso do Sul – que anunciava a morte coletiva daquela comunidade.
A morte coletiva – que é diferente do suicídio coletivo – aconteceria por eles estarem determinados a permanecer em suas terras, enquanto a Justiça insistia em retirá-los de lá. Ou seja, eles estavam dispostos a morrer ao invés de abandonar suas raízes.
Origem e formato
Quando a Justiça Federal decretou a expulsão dos índios de seu local de origem, atos de apoio a eles começaram a surgir, defendendo, entre outras pautas, sua identidade cultural.
Foi nesse sentido que o caso virou um meme. Vários sites convocaram as pessoas de todo o país a lutar nas ruas ou em redes sociais, criando uma mobilização nacional de apoio à causa. Com o mote “Somos Todos Guarani-Kaiowá” a população, por meio da referida questão indianista, acabou propondo um diálogo em torno do legado cultural riquíssimo deixado a nós por eles (já que as matrizes brasileiras se devem, em grande parte, às comunidades indígenas e ao que conseguiram conquistar, merecendo seu espaço e respeito dentro de nossa sociedade).
Surgiram então as hashtags “#SouGuaraniKaiowa” e “#SomosTodosGuaraniKaiowa”, além do acréscimo de “Guarani-Kaiowá” ao sobrenome de vários dos usuários do Facebook. Estas medidas objetivavam criar um slogan que chamasse a atenção e que fosse possível de se localizar a partir dos “trending topics” e outros filtros de pesquisa.
Problematização
Esse estilo de meme é classificado pela autora Limor Shifman como memes que tem um modo de expressão e discussão pública, já que eles formam espaços de troca de ideias onde várias opiniões e identidades são negociadas.
Quando pensamos em ação política digital contemporânea podemos analisar que ela se fragmenta em dois tipos de lógica, a de ação coletiva e a de ação conjuntiva. Juntas, essas lógicas proporcionam a formação de uma identidade para determinados grupos e também compartilhamento de conteúdo personalizado em redes sociais.
O exemplo dos Guarani-Kaiowá serve para nos mostrar que os memes nem sempre são relacionados a brincadeiras e a piadas. Eles também podem ajudar no apoio a causas políticas sérias dentro de nossa sociedade. “Memetizar” algo não é necessariamente sinônimo de “fazer piada”, mas também (e em grande parte das vezes) de compartilhar causas sociais e políticas de forma criativa, de fácil filtragem e de rápida absorção/apropriação.