Origem
A capivara da sorte (ou capivara do WhatsApp) é uma corrente em que caracteres digitais são utilizados para “desenhar” uma capivara que traria a boa fortuna caso o receptor tome alguma atitude, como repassar ou interagir com a mensagem.
Esse estilo de desenho é chamado de arte-ASCII ou arte de teclado, e teve sua origem nos primórdios da web, quando os recursos gráficos disponíveis eram limitados. Porém, a partir do desenvolvimento da computação, o estilo passou a ser uma escolha, ao invés de uma necessidade, o que garante uma conotação diferente ao seu uso.
O uso deliberado de estéticas visualmente feias e toscas foi observado pelo pesquisador Douglas (2014), que chamou o fenômeno de internet ugly. Segundo o mesmo, essa estética tem o objetivo de normalizar a imperfeição e surge como recurso para que amadores integrem a cultura participativa. O internet ugly está intimamente ligado com a cultura de memes, sendo ele o “núcleo estético do conteúdo memético da internet”.
A capivara, por sua vez, é o maior roedor do mundo, e tem incidência apenas na América do Sul, notavelmente no Brasil. Seu nome, oriundo do tupi kapi'wara, significa “comedor de capim”. A capivara é conhecida por sua docilidade, tranquilidade e sociabilidade.
Sendo assim, o mamífero tem caído nas graças do internauta brasileiro, que associa o animal à nossa identidade nacional e por isso cria uma série de memes a partir de fotos do roedor. Inclusive, houve uma campanha para a inclusão da capivara entre os emojis disponibilizados pelo WhatsApp, iniciada pelas professoras Anna Sara Levin, da Faculdade de Medicina da USP, e Nathalia de Mello, do Ensino Fundamental.
Todos esses ingredientes, junto com a necessidade humana de interagir e de estabelecer relacionamentos sociais, culminaram na elaboração das correntes da capivara da sorte, que funciona de maneira semelhante ao “bom dia do WhatsApp”.
Disseminação e Repercussão
A ocorrência da capivara da sorte mais longínqua em mecanismos de busca é de 2013. Todavia, é possível que o meme já circulasse há muito, sendo o seu criador desconhecido.
O formato original da corrente referenciava a capivara da sorte, mas são comuns derivações como capivara: do hexa, dos brothers, do sexo, do WhatsApp, do estudo e da aprovação.
O meme tem picos de utilização quando relacionado ao futebol e a provas de vestibular. Os casos mais notáveis são a campanha em favor do hexacampeonato da seleção brasileira na Copa do Mundo de 2018, com a capivara do hexa, além das provas do ENEM, critério amplamente utilizado para acesso às universidades públicas, com as capivaras do estudo, da redação e da aprovação.
No caso do hexa, a torcida abusou da energia criativa para customizar o meme, originando a “capivara do hexa pisando na Bélgica”, a hilária “capivara da virada do Brasil com ódio pisando na Bélgica comendo chocolate belga” e a desesperadora “capivara toda desconfigurada”, que deveria ser compartilhada para que a seleção se ajeitasse em campo.
Há também a exploração comercial da corrente, em que o mamífero sulamericano é usado como conteúdo ou mesmo como “garoto propaganda”. Há inclusive uma empresa de loteria e sorteios com o nome de Capivara da Sorte.
Gênero e Formatos
Seu formato textual, com o uso de caracteres ASCII, faz com que a corrente, que também é meme, seja propícia a ser disseminada em mídias sociais e aplicativos mensageiros baseados primariamente em texto. Entretanto, versões do meme utilizando fotos de capivara ou mesmo capturas de tela da arte-ASCII garantem sua difusão em mídias com suporte para fotos e vídeos. É possível encontrá-la no WhatsApp, no Twitter, no Facebook, em fórums e no Pinterest.
Muitos usuários mencionam a corrente, geralmente ironizando o seu compartilhamento, seja por questionarem sua efetividade, ou por exporem seu infortúnio e a necessidade de serem agraciados com os poderes da capivara da sorte, originando um novo formato para o meme, a catchphrase. Nesse sentido, torcedores fazem piada com a péssima situação de seus times, estudantes comentam não se sentirem preparados e palpiteiros teimam em indagar se quem compartilhou a capivara da sorte realmente teve sorte.